Guilherme de Melo França
MATUTU
Fundação Matutu - Educação e Conservação Ambiental

1. Breve Histórico do Grupo/Experiência As nascentes das montanhas do Matutu traduzem o significado do seu nome indígena: Cabeceiras Sagradas, Santuário das Águas. O Matutu é um desses lugares de história antiga que segue fluindo no presente. Aqui, um grupo de pessoas iniciou uma pequena comunidade há cerca de dez anos. Atraídas pela força e beleza naturais do lugar, estas pessoas vêm buscando conviver em harmonia com a Natureza, inspirando-se nos povos e culturas da floresta. No início, as moradias eram rústicos acampamentos e o trabalho era realizado em mutirões. As aulas das crianças eram, muitas vezes, improvisadas a céu aberto, à sombra das árvores. Com o propósito de ampliar a área de preservação ambiental da comunidade, foram sendo adquiridas, sempre que possível, novas parcelas de terras, especialmente aquelas que possuíam nascentes e ecossistemas de altitude. Ao longo desses dez anos o trabalho vem sendo guiado pelas necessidades e possibilidades de cada momento, fazendo surgir uma economia solidária, em constante ajuste e aperfeiçoamento. Assim, atividades essenciais de subsistência e convívio comunitário puderam ser desenvolvidas como a agricultura orgânica e a apicultura e a construção de refeitório, escola, oficinas de artes, templo e ranchos de apoio à preservação. Há três anos foi instituída a Fundação Matutu, resultado do trabalho ambiental e educacional da Comunidade. A Fundação protege uma área de mais de 3 mil hectares de campos rupestres de altitude, bosques de araucárias, florestas nativas, nascentes, ribeirões e cachoeiras.

1.l. Objetivos Gerais O objetivo da Fundação Matutu é promover o uso sustentável dos recursos naturais, a educação ambiental e o aprimoramento humano necessários à defesa do patrimônio natural e à melhoria da qualidade de vida. Busca aliar a auto- suficiência rural num contexto de economia solidária à preservação ambiental.

1.2. Objetivos Específicos * Uma de suas principais atribuições é o gerenciamento da Reserva Ambiental Matutu, situada dentro da Área de Preservação Ambiental da Mantiqueira, e considerada Zona Núcleo da Reserva da Biosfera, pela UNESCO. * A manutenção da Escola Rural Kênya é a base de todo o trabalho. Sua continuidade é fundamental para a permanência dos moradores na área rural e , consequentemente, na preservação deste lugar.

2. Situação Atual e Perspectivas Futuras * A conservação dos recursos hídricos através de seu gerenciamento por comitê e seu planejamento por bacias hidrográficas, através do exercício da cidadania. Sua área de atuação prioritária situa-se na micro-bacia do Ribeirão da Água Preta, integrante da Sub-Bacia do Rio Aiuruoca, cujas nascentes são uma das mais altas do Brasil. * Setores produtivos: desenvolvimento de produtos artístico-artesanais. * Ciclo de entrevistas, encontros e reuniões com o objetivo de avaliar uma etapa do processo e promover os ajustes na economia interna (transição do capitalismo (experiência anterior do grupo) ao cooperativismo; desenvolvendo estudos afim de compatibilizar o trabalho comunitário com as necessidades/ aspirações pessoais e o convívio social harmonioso .

Perspectivas futuras: * Estabilização da economia solidária * Auto-suficiência rural * Aumento da área de preservação no entorno da Reserva, com a criação de um Parque Estadual, processo do qual estamos participando; * Regulamentação do núcleo educacional e consolidação da inter/ multidisciplinaridade. Além dos cursos regulares, nosso objetivo é oferecer o curso técnico ambiental, ampliando a formação profissional dos alunos da Reserva e de outras localidades da Mantiqueira; * Parcerias com Universidades e instituições afins, para realização de projetos sócio-ambientais de desenvolvimento sustentável na região; * Maior integração em redes planetárias e movimentos de cidadania pela qualidade de vida.

3. Principais dificuldades e contradições * Conviver com o sistema capitalista dentro de uma estrutura baseada no voluntariado e num sistema participativo auto-sustentável; * Promover a igualitária participação e a divisão das responsabilidades de todos os participantes deste trabalho. * Estabelecer a comunicação eficiente entre os membros do grupo, conseguindo melhor sincronicidade das ações. * A principal contradição do grupo está em compatibilizar as realidades pessoais (aspirações, necessidades e objetivos) com a vivência/estrutura comunitária, as necessidades atuais com as necessidades históricas, o lazer e o trabalho, a organização em grupo e a autonomia individual. Obs.: As contradições podem receber uma abordagem construtiva e tornarem-se complementares.

4. Principais êxitos e resultados relativos às expectativas e objetivos propostos * Manutenção de um núcleo experimental de ensino gratuito há sete anos, com professores voluntários, atendendo crianças e jovens da região, com cursos regulares de jardim, pré-escola, ensino fundamental, médio, suplência.e alfabetização para adultos. A Escola Rural Kênya é mantida, desde sua iniciação em 91, pelos pais e alunos, sem o apoio de outras instituições de órgãos governamentais. * Uso racional dos recursos naturais através de práticas ambientalmente adequadas: arquitetura alternativa de baixo custo, técnicas de cultivo, manejo, plantio em terraceamento, tração animal , entre outras. * Reconhecimento do trabalho por órgãos ambientais do Governo e instituições internacionais como a DGN, da Alemanha e do Instituto para o Pensamento Americano, da Colômbia. * Através de convênio com o Instituto Mineiro de Gestão das águas (IGAM) e a secretaria do Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD), a Fundação Matutu está realizando o diagnóstico e o planejamento da área da micro-bacia do Ribeirão da Água Preta, através do levantamento de dados e da produção de mapas geográficos e de ações de saneamento básico e monitoramento quali-quantitativo da água, com a implantação da rede de amostragem, de uma pequena estação hidrometereológica e de programas de educação ambiental. * Manutenção de várias atividades integradas (agricultura, apicultura e pecuária leiteira de subsistêncía, artesanato, escola etc.), com a utilização de pouquíssimos recursos. * Flexibilidade e coerência na busca de um sistema econômico apropriado. * Controle e combate a incêndios, caça e garimpo na área da Reserva e regiões circunvizinhas, com progressiva diminuição da incidência de fogo e erradicação da caça e garimpo, na Reserva, com evidentes benefícios para o ecossistema como um todo.

5. Expectativas, desejos e objetivos para o Encontro * Participar, fortalecer e expandir uma rede de economia solidária e auto- sustentável; * Partilhar experiências e subsídios afins, que nos possibilite novas e/ou diferentes abordagens e perspectivas de organização social e econômica; * Identificar e firmar parcerias e intercâmbio com os agentes do processo cooperativo e/ou de sócio-economias solidárias.

6 - Possíveis propostas para a construção de uma rede entre experiências similares Reiteramos o programa básico (fax/PACS de 11/0l/98), ressaltando que, para nós, é de maior importância o enfoque dos seguintes pontos: Nível micro: * Diversidade de respostas a problemas e contradições: eficiência e competitividade no mercado capitalista; questões de gestão, organização interna; comunicação; educação/capacitação; divisão de benefícios; formação de preços solidários etc. Nível médio: * Modos de organização econômica numa perspectiva solidária. Nível Macro: * A visão e a construção de uma sócio-economia auto-gestionária e solidária: princípios e valores básicos; * Redes de intercâmbio solidário regional e continental; * Legislação nacional e internacional referente ao cooperativismo; * Projeto sócio-econômico e político de globalização solidária.
Fundação Matutu - Educação e Conservação Ambiental
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